ESPECIAL FESTA DA POLENTA

Fórmula de sucesso: voluntariado, envolvimento geral e povo

Antes uma festa seletiva, criada para entreter um pequeno grupo de famílias de imigrantes e arrecadar fundos para obras voluntárias à comunidade, hoje a Festa da Polenta ultrapassou barreiras étnicas, sociais e econômicas. É a força do povo que alimenta de sucesso o maior evento da região das Montanhas Capixabas. Em sua 41ª edição, apesar de todo o esforço incondicional de seus organizadores ao longo de todo o ano, tanto que até criaram uma associação específica para tratar de assuntos de interesse do evento, a Associação Festa da Polenta – Afepol -, ou como costuma-se dizer: “quando termina a festa já começa a organização da próxima”, o envolvimento, direto e indireto, de toda a comunidade, seja empresarial, político ou de doação de serviços, é que garante e mantém o sucesso estrondoso e criativo da festa, que já entrou para o calendário oficial de um dos eventos mais visitados do Estado, mexendo com vários setores econômicos e de geração de renda, não só o hoteleiro, de alimentação e visitações turísticas, mas também o imobiliário, com a locação temporária de unidades residenciais durante as duas semanas de programação festiva.

Estrutura de alto nível
Homenagens na abertura

Uma secretária e o marido, recepcionista de hotel da cidade, por exemplo, alugaram o apartamento da família por um fim de semana e faturaram R$ 600. “Complementa de forma significativa a renda familiar”, confirmam. Outra sobrinha de uma conhecida da reportagem também conseguiu o mesmo valor, locando a casa da família para o sábado, dia do show principal do primeiro fim de semana, com a dupla Henrique e Juliano, sucesso no cenário nacional.

Prefeito Paulinho Minetti fez discurso sobre união de forças na abertura do desfile das candidatas à Rainha

A Festa da Polenta revolucionou nichos abrangentes da economia. “O evento tem importâncias diversas. Para o nosso turismo é o principal produto e vai muito além dos fins de semana da festa. Ela revela o potencial das belezas naturais e nosso agroturismo, e ainda promove o tradicional voluntariado vendanovense. Nossa rede hoteleira e comércio são superaquecidos nas duas semanas de festa, demonstrando um pouco da cultura dos imigrantes e tradição das famílias. Tudo isso sem esquecer da finalidade social da festa, que é o maior legado deixado pelo Padre Cleto Calimam”, recorda-se o advogado Frederico Rodrigues, ex-chefe de gabinete do governo municipal e coordenador de curso da principal faculdade do município, lembrando do idealizador.

“Além de representar toda a história e a cultura dos imigrantes na região, também dá uma lição no que se refere a voluntariado. As pessoas abraçam, mesmo, a causa e fazem uma festa muito grande e conhecida em todo o Estado, atraindo muitas pessoas, movimentando um montante significativo em dinheiro e, obviamente, a economia do município”, reforça a professora de História, Laudineri de Fátima Salve.

A professora não arrisca mensurar a repercussão do evento em nível nacional, mas aposta que é bastante significativo “porque conta a chegada dos imigrantes italianos, mais um povo que compõe a história do Brasil” e demonstra a criatividade e organização dos descendentes, porque “é muito bem feita, deixando o Polentão com uma energia maravilhosa, com o paiol do nono e da nona em funcionamento igualzinho na época dos primeiros imigrantes; tudo é reproduzido, contando a história de verdade, com as pessoas a caráter e, no segundo sábado, há um desfile das famílias tradicionais a partir das 10h, que, na minha opinião, é a melhor parte da programação”.

Na avaliação do secretário de Estado do Turismo, Dorval Uliana, que falou especialmente para o deolhonasmontanhas sobre a festa, “o evento já é consolidado, transbordando o objetivo social inicial de arrecadar fundos para o Hospital Padre Máximo, sem, entretanto, abandoná-lo”. Hoje, a Festa da Polenta, para ele, “é um dos principais eventos de promoção turística do Espírito Santo e conhecida em todo o País, movimentando a economia da região, promovendo o turismo e mostrando muito dos nossos valores, nossa identidade e formação cultural; a relevância é em alto nível”, considera.

O vereador Sávio Filetti (PSD), ex-secretário municipal de Agricultura, pode confirmar que toda forma de envolvimento é importante para o sucesso da festa. Ainda que a classe política esteja em descrédito em âmbito nacional por causa de escândalos e investigações, em Venda Nova do Imigrante a parte de cada um é cumprida à risca, especialmente no que tange a apoio político. “A Festa da Polenta é de fundamental importância para o município, uma vez que mexe com nossa economia de modo abrangente por meio das milhares de pessoas que passam por aqui durante sua realização, ocupando nossos hotéis, abastecendo em nossos postos de combustíveis, comprando em nossas propriedades rurais, que aguardam ansiosamente o evento, acreditando no aumento das vendas. Tudo isso, melhora a qualidade de vida, proporcionando oportunidades em frentes de trabalho diversas”, avalia, quando procurado pela reportagem por ter ocupado a pasta direcionada ao atendimento do contingente agrícola municipal.

Contudo, embora seja homem da política e da agricultura, Sávio não se esquece de mencionar o lado social do evento. “São inúmeras entidades dos mais diversos fins, como saúde e esporte, que detém projetos e encontram na Festa da Polenta um suporte financeiro importantíssimo para o fortalecimento de suas atividades”, aponta.

Há ainda o lado cultural, que o vereador destaca não só durante a festa, “mas sim durante todo o ano por conta de projetos e eventos distintos apoiados e realizados com apoio da Afepol; é fenomenal o resgate da história vivida pelos antepassados que aqui constituíram suas famílias, trazendo para a realidade uma forma diferente de encarar as dificuldades que a vida nos proporciona no dia a dia”, defende Filetti.

Na análise do vereador, ele também concorda que o evento ultrapassou obstáculos e conseguiu avançar fronteiras “não só de nosso município, de nossa região Sul-serrana, mas podemos dizer até de nosso País, pois é comum encontrar no Polentão turistas de outros lugares do mundo graças aos diferentes parceiros, entre eles os que trabalham de forma voluntária durante todo o ano, mas, sem dúvida, a união da população em querer que o evento aconteça é o maior patrimônio da Festa da Polenta”, ressalta.

Agricultura também se alimenta do turismo propiciado pelo evento

Recentemente, o blog deolhonasmontanhas tornou a ser alvo de crítica porque mencionou o turismo como parte da base da economia municipal. Pois, além de acreditarmos no que escrevemos e verificarmos a procedência das informações, estamos em frequente contato com lideranças de diferentes segmentos e o ex-secretário municipal de Agricultura confirma o impulso que o setor agrícola recebe durante a Festa da Polenta por causa do grande fluxo de turistas que visita a cidade e seus atrativos de turismo rural.

“A realização da Festa agrega muito à economia do município, especificamente às propriedades agrícolas que estão voltadas para o agroturismo. Percebemos que a movimentação aumenta consideravelmente nesta data e produtos como socol e outros embutidos, além de pães, vinhos, café, queijos, geleias, dentre outros, são comercializados para diversos destinos”, observa Sávio Filetti.

Ele destaca também a culinária servida durante a festa constituída quase que em sua totalidade de produtos produzidos pela agricultura local. ‘Citamos o milho da polenta, a linguiça, a carne de frango, o queijo, o molho de tomate, entre outras variedades. Esses produtos apresentam uma característica única e que impressiona a todos que experimentam: a qualidade apresentada, destacando assim nossa região, nossas propriedades e nossa agricultura”, enfatiza.

Sávio geriu Agricultura por oito anos

O casal de comerciantes do ramo de carnes Ivam e Sônia, da Casa de Carnes do Ivam, na Vila Betânia, por exemplo, assumiu toda a parte de fornecimento de linguiça suína artesanal, com tempero tipicamente caseiro. “São duas toneladas e meia do nosso produto comercializadas durante a festa. O evento é importante porque movimenta todos os tipos de estabelecimentos comerciais e isso é muito positivo para nós, vendanovenses”, opina Sônia, que gerencia o negócio da família, enquanto o marido se dedica à parte de açougue em geral e cortes especiais, como bovinos da espécie Angus, ‘a vedete’ do mercado na atualidade.  

Sônia, da Casa de Carnes do Ivan: 2.500 kg de linguiça suína para a festa

O município deve, também conforme análise do ex-secretário de Agricultura e vereador em exercício, “continuar enxergando a Festa da Polenta como um evento que traz consigo características muito fortes de desenvolvimento, já que não é segredo para ninguém que Venda Nova detém limitações para atrair alguns tipos de empreendimentos para geração de emprego e renda, no entanto, em sua trajetória, a cidade tem demonstrado, por meio de muitas ações e eventos como esse, particularidades de um povo aguerrido, acolhedor e organizado, que se fortalece em áreas diferentes de desenvolvimento, como prestação de serviços, educação, especialidades médicas e, também e especialmente, agricultura e turismo”.

Uma das fórmulas de sucesso, segundo Filetti, “é áreas distintas caminharem lado a lado para que a engrenagem do todo funcione bem; a sociedade tem encontrado nessas atividades prazer, diversão e qualidade de vida, então cabe aos gestores públicos buscarem políticas públicas que fortaleçam toda a cadeia produtiva e de serviços para que o ciclo se feche”.

Como conquistas que deram certo e cujos resultados são vistos na atualidade, ele destaca: qualidade em primeiro lugar, aperfeiçoamento contínuo, busca por inovação e ampliação de sistemas tecnológicos. “Sentimo-nos realizados por termos contribuído durante oito anos na pasta de Agricultura para levar o sinal de telefonia à grande parte do interior rural, melhorar a infraestrutura e acessos com pavimentação, abrir novas vias que facilitaram a trafegabilidade de produtos e pessoas, criar e fortalecer eventos e espaço físico para os mesmos no interior rural, qualificar e criar novos produtos da agroindústria, implantar e diversificar as atividades agrícolas com o fomento de diversas espécies, criar a nossa Feira Livre da Agricultura Familiar, disponibilizar equipamentos para melhoria da qualidade de nossos principais produtos, entre eles o café, melhoramento da qualidade de nosso solo e nossa genética para produção de leite”.

Sávio Filetti age sob três frentes de atuação parlamentar: captação de recursos para aquisição de equipamentos agrícolas e de uso público, como veículos e ambulância, e para pavimentação de ruas; legislar por meio da apresentação de projetos e leis que moralizem e modernizem o serviço público municipal, como a Ficha Limpa Municipal, regras para inauguração de obras e fim do recesso parlamentar de meio de ano; e fiscalização das ações do Executivo na aplicação dos recursos públicos.

“Não podemos admitir sob hipótese nenhuma que gestores públicos pensem em administrar pautados na falta de transparência e indícios de irregularidades para beneficiamento próprio de seu grupo político ou de amigos. O gestor público tem que se pautar em realizar uma administração para o bem da sociedade e para isso necessita ouvir seu povo, possibilitando diminuir os erros e focar suas ações para que o resultado seja a qualidade de vida da coletividade”, sugere.

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